PU’s moldados freqüentemente são combinações de espumas de PU revestidos com materiais diferentes. Todavia, a manufatura destes produtos envolve fabricação da superfície recobridora, como uma etapa separada do processo. Em contraste, a espuma de PU com pele integral, também conhecida como espuma integral, pode ser moldada em uma única etapa. Consiste de um coração celular recoberto por uma pele sólida, de espessura (1 a 5 mm) e dureza controláveis e possui excelente reprodução da textura do molde.
Os PU’s integrais são produzidos em densidades entre 200 a 800 kg/m3 podendo chegar a 1100 kg/m3. As propriedades das espumas integrais não são determinadas somente pela natureza da matriz de PU, mas também, pela distribuição de densidade ao longo da seção transversal. Estudos mostram que melhor resistência mecânica, combinada com baixo peso, é obtida quando a variação da densidade, entre o coração e a pele da espuma, cresce continuamente.
Matérias-primas
A escolha das matérias-primas é importante nas propriedades finais. Sistemas contendo polióis (Capítulo1) com peso molecular entre retículos (Mc) entre 300 e 800 dão espumas rígidas integrais, também conhecidas como PUs estruturais (Capítulo 4.10). Os com polióis de Mc entre 800 a 2000 formam espumas semirígidas (Capítulo 4.3), e os com Mc acima de 2000 são usados nos PUs flexíveis integrais (Capítulo 4.6). A concentração de extensores de cadeia e catalisadores deve ser ajustada para permitir características de fluidez e cura. Tempos de desmoldagem menores que 90 segundos são usuais. Para uma boa formação de pele deve-se ter precaução com a umidade atmosférica durante o processo.
Tabela 4.9 - Sistema típico de espuma integral
Componente poliol |
Partes por peso |
100 |
|
5-30 |
|
1-10 |
|
0-0,05 |
|
0,1-2,0 |
|
0-10 |
|
2-4 |
|
4-6 |
|
Água |
0,3-0,6 |
Índice de isocianato |
80-110 |
Na fabricação das espumas com pele integral, o gás usado para a expansão pode vir da volatilização de solventes de baixo ponto de ebulição, pelo calor desprendido na reação, ou, mais recentemente, pela reação do isocianato com a água gerando gás carbônico. Normalmente, a superfície do molde é mantida em temperatura inferior a de ebulição do agente de expansão auxiliar (na pressão utilizada no molde), enquanto o coração da espuma atinge o máximo da temperatura de reação (cerca de 60ºC superior à da parede). Como conseqüência, a parede fria do molde favorece a formação de uma pele sólida, livre de bolhas, enquanto a temperatura alta do interior do molde (> 100oC) favorece a estrutura celular do coração da espuma.
Devido a questões ambientais o uso do CFC-11 vem sendo substituído, como agente de expansão (Capítulo 2). Os HCFC’s, como o HCFC-141b, são alternativas, porém outros sistemas a base de pentanos ou mesmo utilizando água têm sido utilizados. O uso de água requer ajustes na formulação para evitar a formação de pele muito fina. O emprego de agente, ou mistura de agentes de expansão com ponto de ebulição elevado resulta em aumento da espessura da pele da espuma.
Nas espumas integrais as matérias-primas são formuladas em sistemas, fornecidos pelos fabricantes. Dependendo do sistema, o componente A pode ser MDI puro, MDI modificado ou MDI polimérico (Capítulo 1). O componente B pode conter uma mistura de polióis, extensores ou reticuladores (Capítulo 1), e aditivos (Capítulo 2) como agente de expansão, catalisadores, surfactantes, corantes, retardante de chama, agentes antienvelhecimento, e, em alguns casos, desmoldante interno. O usuário adiciona somente o agente de expansão. Cargas também são usadas para otimizar propriedades ou reduzir custos. Agitação lenta no tanque de uso diário do poliol é importante para manter a homogeneidade, principalmente se cargas são usadas. O tanque deve ser mantido cheio para evitar a evaporação do agente de expansão.
As etapas do processo conduzido em uma operação são as seguintes: limpeza e preparação do molde, colocação dos insertos, aplicação de desmoldantes, aplicação do revestimento por transferência, condicionamento, mistura e injeção dos reagentes, cura, desmoldagem, acabamento.
Moldes simples ou complexos, gravados ou texturizados devem ter construção sólida e resistentes a pressões internas de 140 kPa. Moldes de alumínio fundido com boa selagem, e alta capacidade de remoção de calor são os mais usados. Deve existir sistema de alívio, porém uma extrusão mínima deve ser tolerada. A abertura deve ser em local em que a superfície da peça não será exposta. Recomenda-se um único ponto de injeção, com selagem firme. Os moldes devem ser perfeitamente limpos, e então, aplicado desmoldante ou revestimento por transferência. Pode-se usar desmoldante interno.
Um controle acurado da temperatura do molde é essencial para boa reprodutibilidade da espuma integral. Cada formulação deve ter uma latitude de temperatura que deve ser estabelecida experimentalmente. Se a temperatura do molde estiver fria, aparecerão falhas na pele. Em temperaturas elevadas a pele torna-se indesejavelmente porosa. Em geral, a temperatura do molde deve ser tão baixa quanto possível para um ciclo rápido e pele sem defeito. São típicas as temperaturas entre 38-660C.
Equipamentos de dosagem e mistura convencional são usados. Devem ser tomadas precauções quanto ao desenho e tamanho da cabeça misturadora para uma retenção mínima de ar nos ingredientes. A saída dos bicos do misturador deve ser suficientemente larga para minimizar respingos e arraste de ar durante o derramamento. O arraste de ar é a maior fonte de defeitos na pele. A máquina deve ser regulada de forma que o tempo de adição dos reagentes seja menor que a metade do tempo de creme da formulação. A formação de pele é favorecida se o molde for superenchido por um fator de 20 a 100%. O percentual de superenchimento é calculado pela divisão do peso superenchido total pelo peso necessário para encher o molde.
Devido à troca de calor e o aumento de pressão interna do molde supercheio, forma-se uma pele densa pela condensação do agente de expansão na parede. Maiores temperaturas do molde produzem peles mais finas. Peles mais grossas são obtidas pelo abaixamento da temperatura do molde ou aumento do superenchimento.
O calor das reações exotérmicas é suficiente para curar o polímero em menos de dois minutos. Após a desmoldagem, a superfície da peça deve ser furada para permitir o escape do gás e prevenir encolhimento. Neste estágio, a espuma contém agente de expansão e outros vapores que podem ser indesejáveis nas etapas subseqüentes. Estes vapores são removidos durante a pós cura em um forno adequado.
Depois da pós cura as peças são aparadas e o desmoldante residual removido. Se a peça tiver sido preparada com pintura por transferência, o processo estará completo. Caso contrário, a peça deverá ser limpa com solvente como preparação para a pintura.
A indústria automobilística tem aumentado o consumo de espumas flexíveis com pele integral em peças que precisam satisfazer normas de segurança. Na indústria calçadista tem crescido o emprego de sistemas de PU a base de poliol poliéster em solados de calçados (Capítulo 4.7), e de poliol poliéter em entressolas. Materiais de baixa densidade e células abertas bem como elastômeros microcelulares ou sólidos podem ser fabricados com estes produtos.
Matérias-primas
Espumas integrais macias e elásticas, com alongamento na ruptura relativamente alto, são obtidas a partir de sistemas que empregam polióis poliéter reativos, de cadeia longa linear ou ligeiramente ramificada, com peso molecular entre 2000 e 8000. Estes reagem com diisocianatos modificados, à base de MDI ou TDI e extensores de cadeia ou formadores de ligações cruzadas, predominantemente, difuncionais. São também usados polióis poliméricos.
Os polisocianatos (Capítulo 1) usados na fabricação das espumas flexíveis integrais são baseados no 4,4`-difenilmetano diisocianato (MDI) e tolueno diisocianato (TDI), usados na forma modificada. Os mais utilizados são os tipos de MDI, com modificação carbodiimida. Também são usadas misturas isoméricas de TDI, modificadas com grupos uretânicos (semi-prepolímeros). As características importantes, com relação à processabilidade, são o teor de NCO e a viscosidade dos isocianatos. Além dos isocianatos aromáticos, os alifáticos como o isoforona diisocianato (IPDI) é utilizado na fabricação de espumas integrais estáveis à luz (não amarelam). A funcionalidade do isocianato utilizado, influência as propriedades mecânicas da espuma (Tabela 4.10) e os polifuncionais levam a obtenção de baixos valores de alongamento.
Tabela 4.10 - Efeito da funcionalidade do isocianato
Funcionalidade do MDI |
|||
Coração da Espuma |
2,8 |
2,2 |
2,0 |
120 |
120 |
120 |
|
130 |
130 |
300 |
|
80 |
150 |
250 |
|
3,3 |
5,0 |
8,0 |
|
26 |
12 |
10 |
Além dos polióis e isocianatos são utilizados extensores de cadeia, ou formadores de ligações cruzadas (Capítulo 1). A quantidade do extensor de cadeia ou formador de ligações cruzadas determina a resistência à compressão e módulo da espuma. Nos sistemas poliéter, são usados etileno glicol, 1,4-butanodiol, trietanolanina, trimetilolpropano, álcoois ou aminas polifuncionais e em alguns casos 4,4`-metileno-bis-(2-cloro-anilina) (MOCA).
As propriedades das espumas, especialmente a velocidade de cura e fluidez, são diretamente afetadas pelos catalisadores selecionados. Dependendo do sistema são usados catalisadores de expansão, gelificação, cura da pele, etc (Capítulo 2). Aminas terciárias, especialmente DABCO ou TEDA, ocupam posição especial. Organo metais (Capítulo 2), como o dibutil estanho dilaurato, são usados na produção de elastômeros microcelulares e sólidos que podem ser processados com ou sem a adição de agentes de expansão.
Os PU’s integrais são produzidos com agentes de expansão (Capítulo 2) como os HCFC’s, pentanos e água. O uso de água em espumas com densidades entre 600-700 kg/m3, resulta em formação insuficiente de pele. Este problema é contornado pelo ajuste da formulação, como por exemplo, variação da composição do isocianato. A concentração dos isômeros 2,4, 4,4’ e do oligômero com três anéis de MDI são fatores que afetam a performance do sistema, e a formação de pele.
Para a obtenção de uma pele sólida, compostos de baixo ponto de ebulição são os agentes de expansão utilizados . Os HCFC’s e o cloreto de metileno podem ser usados e o segundo promove a formação de pele, especialmente nas espumas flexíveis integrais. Embora estas contenham células abertas, pode ocorrer encolhimento quando uma pele grossa e não celular evita a rápida troca gasosa e o equilíbrio da pressão.
Muitas das formulações comerciais contêm aditivos (Capítulo 2) como cargas, pastas de pigmentos, estabilizantes de U.V., retardantes de chama e, se necessário, estabilizadores de espuma.
Os PU’s integrais, utilizados em solados de sapatos, são geralmente fabricados com polióis poliésteres (poliadipatos), lineares (difuncionais), ou ligeiramente ramificados, produzidos com ácido adípico e glicóis (1,4-butanodiol, mono e dietileno glicóis, trimetilol propano, sozinhos ou misturados). Estes polióis poliéster são pastosos à temperatura ambiente e se liqüefazem em temperaturas superiores a 30ºC. Nos sistemas ésteres, o componente poliol contém, além do poliol poliéster, glicóis, água, DABCO (diazobiciclo-octano), silicones como emulsificantes e pigmentos. O teor de glicol determina a dureza e o de água a densidade. Como os polióis poliésteres podem sofrer transesterificação, sua estabilidade durante a estocagem é limitada. Durante o processamento, o componente poliol é misturado com prepolímeros, feitos com MDI puro e o poliol poliéster.
Espumas flexíveis possuindo pele densa e não celular com espessura de um a cinco milímetros, são usadas em aplicações como: volantes, apoio de cabeça, “spoilers” e peças interiores e exteriores dos automóveis. As peças são normalmente pintadas por transferência, porém as de maior manuseio como os volantes e peças de mobílias são pigmentadas internamente.
As espumas de PU flexíveis integrais são fabricadas em diferentes densidades devido às diversas áreas de aplicações. As de baixa densidade, macias e elásticas (200 a 300 kg/m3), são usadas em assentos de bicicleta, peças para o interior dos automóveis, entressolas de calçados, etc. As de média densidade (400 a 600 kg/m3) em entressolas de calçados, etc. As de alta densidade resistentes e elásticas (700 a 1000 kg/m3), também chamadas de elastômeros microcelulares são utilizadas em solados de calçados, peças exteriores dos automóveis, etc. Os PU’s sólidos fabricados por RIM (densidade aproximadamente de 1100 kg/m3) são também usados em solados de calçados e peças exteriores dos automóveis. Características típicas de partes interiores e exteriores dos automóveis são mostradas na Tabela 4.11.
Tabela 4.11 – Espumas integrais automotivas
Propriedade/Aplicação |
Interior |
Exterior |
128-224 |
640-800 |
|
80-192 |
560-720 |
|
7-70 |
1380-5520 |
|
3,5-9,0 |
14-42 |
|
100-200 |
100-200 |